sexta-feira, 23 de março de 2007

O velho balanço da Fazenda Lembrança


A casa d'árvore / o velho balanço / minha lembrança se relembrando



Vale lembrar
que o esquecimento
que é a nossa verdadeira
(des)memória

O meu passado se desfazendo
em algumas toneladas de concreto
o velho balanço
a piscina vazia
e uma rã lá dentro
caída
o que fazer não sei
esperar o fragor
d'água
sumir

tudo que me lembra
o doce ar ingênuo infantil
o lodo
e o pneu(motorax)
o cair
a cicatriz
por um triz
não se conflagrando


a paz dando lugar
a um muro se levantando
a moradia
e as pessoas
se acoplando
a meu resquício de lugar

a minha casa
psique transfigurada no sono

pois hoje morri
senti ciúmes
e desejos
oníricos

e minha atitude foi acordar
escutar strauss
e desvouvir os pássaros-gaiolas
cantarem
o vazio que sentem
o canto do silêncio
de não
poder mais
bater as asas
deixar sua casa

devasso




o pomar
o amor

tudo que era dantes
colhido
agora
recolhido
em prateleiras
enfileiradas

selo de garantia




um fio de luz se revela
rios de teias
atravessam
as pontes do vazio-ar

sustentadores
de moléculas

armadilhas do invisível
do irreparável



a pavimentação
o avanço
acredite
se quiser
parou
porque no meio
tem uma árvore
velha e sem frutos

o corguinho
já desgastado
e com sua rota alterada
ainda insiste
em existir

não creio que dure mais do que
minha ilustre
vida efêmera
e repentina




a bicicleta dos anos 60
a gaiola prendendo os cantos de silêncio
a mesa
as fotos
os fatos
as teias
as telhas
as armas de meu tatatatatarávo
e a incerteza
se ainda vou
ver aquilo
continuar reunido
no seu desunir



Nada mais que lembranças
um viver
que não volta mais
agora
registrado
pelo inconsciente
não sei se ainda sentirei de novo
tudo que senti hoje

Nenhum comentário: